quinta-feira, 28 de junho de 2012

FLÁVIO MELLO






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FLÁVIO MELLO é o pseudônimo de Flávio Ferreira de Melo, que
nasceu em São Paulo, Capital, em 1978. Formado em Letras,
trabalha como editor e coordenador editorial de livros, palestrante e
professor de Literatura, Artes e Produção de Textos. Publicou o livro
de contos Seleção Natural


HÁ UM GULLAR DENTRO DE MIM
(poema não subversivo)



NÃO É MINHA ESTÁ IMAGEM
DE POETA FERREIRA GULLAR
NO ESPELHO ENVELHECIDO DO BANHEIRO.
Não sou o eu que vejo,
Então veio-me um poeta
(que para mim são como anjos),
dizer-me de minha importância poética,
aquela mesmo que me vejo cego.
“POETA, SAGRADO ÉS TU...”
admiração não se dobra para pôr em gavetas,
pois a memória não é cômoda.
ESTÁ IMAGEM NÃO É MINHA,
Muito menos a mão que empunha pena,
Mão que ergue folha,
Mão que ergue livro, Tomo celestial...
Tomo goles d’água no escuro,
De lirismo afogo-me no pranto,
Ouço de Gullar o riso –
Sobre a mesa espalho-me todo.
Pois para sempre todo sempre
Eternamente infinitamente
Não serei um poeta no espelho
Pois vapor cobre meu reflexo
Que revela mais um ninguém.


Flávio Mello


FOLHAS DE LEPIDÓPTERO


A
BOLA
VERMELHA
DA
GAROTINHA

a abandona na calçada,
espanta os pombos na rua úmida pós-
chuva, golpeia uma e outra poça d’água,
atinge, tinge, umedece o vestido azul
celeste da moça universitária, perdendo
força toca o tronco duma macieira, e,
num singelo espanto, treme, sibila em
frêmito e as folhas como borboletas,
uma a uma, partem-se em milhões.


Flávio Mello



RÉQUIEM DE SICÁRIO


Precipitar-se como chumbo um céu
Sobre um mar inda mais turvo;
Os olhos como petrificados
Em um caminho fumigatório...
O mar – não se abre,
O mar é dissolvido por lágrimas
E as mãos não represam a tempestade!
Todavia, desaba,
Deus como desmancha (dissolve-se),
Deus não me soterre!
(Lá longe, muito mais que, simplesmente, longe
- INFINITO! Sim, Infinitamente...)
Respiro fundo, fecho meus olhos, ergo meus braços
como se em assalto me deparasse, tento imaginar
Deus, seus mãos, LUZ... – num salto mesquinho
parto para este INFINITO (sem cordão umbilical)
que a cada momento se faz MAIOR e
menor
dependendo da velocidade na qual despenco; sim,
despenco como o céu sobre meus pés, como o mar
ante minhas mãos. E a luz, brilhosa, luzente,
chamejante, cintilante, flamejante, fulgente, lúcida,
cada coeficiente fazia-se maior, MAIOR,
MAIOR,
MAIOR,
e, como sombra do espectro infernal,
como o sussurro distante soprado por garganta
rota, minha alma lentamente deixava meu corpo,
em narcose instantânea, senti meus dedos tocarem
as águas do mar, e, cada osso, como vidro,
porcelana, gesso, argila, barro, cera, casca de ovo,
como pós-disparo de arma de fogo, se quebrar... –
primeiro os dedos, depois os braços, depois o
crânio, depois o tórax, depois a bacia, depois as
pernas, depois... depois sobre a superfície da água
uma nódoa fétida como óleo, de petroleiro em
águas castas, singrando rumo ao infinito-mor de
minha alma...
em
busca
de
uma
vela
que
eleve
o leve
pano
nada me é mais querido
que o apito do navio;
que o som do vapor;
que o som do oceano.
E há tormenta em meu cerne
E como verme em germe serve
Como um ácido de sentimentos
Não desbotarei tamanha vida
Pois só o que me reina
É um RÉQUIEM efêmero
... do meu MORRER!


Flávio Mello

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