quarta-feira, 27 de junho de 2012

THIERS RIMBAUD






Ainda não concluí a partitura na qual componho minha canção.
Com certeza vos asseguro:

“Vivo entre Verbos e Átomos.”

Sou aquele que salva palavras catadas no lixo e provoca orgasmos.
Entre trapos, silêncios e mentiras, tapo a voz amarga que digere os seres.
Mordo a boca, sangro e vorazmente escrevo.

Pensamentos acerca de silêncios

Thiers R >


Aguardo um poema
descalço
desencontrado
desequilibrado
rabiscado
de silêncios



MEDO
Thiers R >


Na frágil linha do arco íris
transita meu medo
como chocolate meio amargo
como fruta cristalizada
como giz que arranha
tenho medo de teu rancor
de teu olhar duro e pontiagudo
que atravessa punhais
sem fachos de luz
na frágil linha
me apunha-lo
me risco
me exponho
porque sou
uma verdade incerta
porque sou
um poeta
que pisa brasa rastejante
em busca de delírios
inveja seca e mofada
senta e ri em meu sofá.


EM CANTO DE OBOÉ
Thiers R >


Talvez porque não me pertençam
tristezas fazem-me bem
tristezas
paralisadas
no canto direito da nuvem
nostálgica gargalhada
histérica
nua
chora
o canto
d’oboé
segundo dormido
cochila
alça caída
tristeza solene
nu ar
peito nu
meu peito
que a mim
provoca
sorrisos e
miragens
margaridas
alcoolizadas


Calidamente balbuciei
Thiers R >



Era um pedaço, apenas um pedaço
de queijo branco na toalha negra
esparramada ao céu
sua beleza transcendia a vizinhança
era uma fatia dormida
na cama dos lençóis em sombras.
penso que a morderia
mas o medo de fazê-la sangrar
me intimidava
Branca dominava o mundo
com vontade infinita
eu permitia que reinasse no silêncio
e espiasse palavras
que gostaria de pronunciar
calei-me
Ali derramou em meu cérebro
sensual branco-azulado, rendi-me
Doei-me no instante divino e
por momentos ficamos unidos em cópula
Eu, a lua e nossos silêncios
os lençóis de sombra invejavam
beijos colados de beleza
cavalguei-a com carinho
e suado apesar do frio da noite de inverno
balbuciei calidamente
- sou teu! -
Fui, porque me dou inteiro
fechei olhos, bebi um copo d’água,
levantei a cabeça
ela se fora na escuridão
deixando-me a sombra por companheira
acendi a luz tendo ao lado
apenas negro teclado onde agora transcrevo
minha doce, terna e intensa noite de amor.



FINGE QUE ME AMA
Thiers R >


Precisava vê-la na rua
a bunda saliente
atravessara a palma de minha mão
Ah! mulher
onde escreveste que meu corpo ejacula?
tesão...
onde coloquei minha palavra?
certamente na saliva
do cuspe que te beijei
Vai...
torpe mentira
arranha minhas costas
finge que me ama
marca
a boca tremula
em mim
depois diz:
-salivei emoção
-escorri desejos
tremulo e sonolento
fui na bandeja
retirei o filme
dei pause
voltarei amanhã

Um comentário:

Herta Scarascia disse...

Thiers não escreve. Ele sente. Ele devora. Ele expele. Escrever seria pouco... palavras sobre palavras, cima abaixo, em linhas que se seguem, paralelas ou não.... não comportam e nem podem compor a música de seus poemas. Ele não vê, não analise, não cobre e nem redescobre... ele sangra.
E foi assim, em contato com essa mistura de sentimentos que eu percebi que esse Thiers é um poeta. Não daquele tipo que se preocupa com regras, formas e análises... mas um poeta que se faz dourado pelo amor à verdade que sente, transportando-nos ao seu mundo, ora devorado por delícias indizíveis... ora transbordante de plenas interrogações que se fundamentam dentro do nosso inconsciente.
Talvez esse poeta não saiba, mas o arco-íris que transita seu medo; teu próprio peito, que te provoca sorrisos e miragens; e os momentos em que você e a Lua ficaram unidos em cópula; e a torpe mentira que imploramos ouvir dela que nos ama... tudo isso, poeta, você despertou dentro de nós. Fez o que os poetas devem fazer: lembrar a quem não tem o dom, de que nossa dor, nosso amor e nossa vida existem... em forma de poesia. MUITO OBRIGADA!

Herta Scarascia
Licenciada em Letras pela Universidade Federal de Viçosa
Jornalista pela Unisinos/RS